Comentários
Apelo a dar prioridade à escuta da palavra do Senhor.
O evangelho não apresenta uma oposição entre ação e contemplação. Neste caso, Jesus daria prioridade à contemplação sobre a ação. Aqui, a questão é bem outra: trata-se de receber Jesus, e de recebê-lo de verdade.
Foi Marta quem o recebeu (cf. v. 38). Daí que é não só precipitado, mas uma má leitura do texto, desqualificar Marta. Jesus aceita o convite de Marta. Aliás, ele espera ser convidado: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20). Nós temos sempre uma porta a abrir para acolher Jesus. A fé em Jesus é hospitalidade – trata-se de recebê-lo em si, em sua intimidade pessoal e familiar. E recebê-lo bem! Receber bem é deixar o outro falar e se dispor a ouvi-lo. Frequentemente, há muito barulho à nossa volta, muito barulho em nós. Escutar alguém exige atenção. Escutar distraidamente, continuando a fazer as tarefas, é um modo de dizer àquele que fala que o que ele diz não tem nada de decisivo. Nosso relato tem um valor simbólico. Ele responde a uma questão fundamental para o cristão: o que é ser, realmente, discípulo de Jesus? A lição deste episódio é que ele não opõe duas opções. Ele afirma uma prioridade: escutar, receber uma palavra que se instala em nós como um hóspede se instala em nossa casa. Nosso texto é um apelo a dar prioridade à escuta da palavra do Senhor.
Carlos Alberto Contieri,sj
Comentário do Evangelho
QUEM AGIU CORRETAMENTE?
A experiência de acolhida e hospitalidade na casa de uma família amiga é um alívio para Jesus, depois dos tristes episódios de rejeição, na sua longa marcha para Jerusalém. Afinal, a cena evangélica torna-se uma ilustração viva das diferentes maneiras de acolher Jesus. Marta e Maria expressam duas formas de acolhimento: por um lado, o serviço generoso; por outro, a escuta atenta. Qual das duas atitudes apresenta-se como mais conveniente?
O texto evangélico recupera o papel da mulher, na comunidade cristã. Marta representa o tipo tradicional de mulher, ocupada nas lides domésticas. A atitude de Maria tem um quê de novidade: ela assume a condição de discípula, que se coloca aos pés do Mestre para escutá-lo e, posteriormente, torna-se apóstola do Evangelho. Evangelicamente, só tem sentido escutar a Palavra, se fôr para colocá-la em prática. Esta é a situação de Maria. Sua escuta não é mero passatempo, nem puro gesto de deferência a Jesus.
A atitude de Maria corresponde a um avanço em relação àquela de Marta. A mulher cristã pode também tornar-se apóstola, superando o simples âmbito doméstico de sua ação. O único pré-requisito é estar em profunda comunhão com o Mestre, compreender o sentido de suas palavras e esforçar-se para testemunhá-las com a vida.
Oração
Espírito de escuta, predispõe-me para ouvir as palavras de Jesus, assimilá-las e testemunhá-las com a minha vida.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
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