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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O papa Francisco realmente agrada a todo mundo?

Cardeal Walter Kasper: 'o papa não será uma unanimidade'
Por Marie-Lucile Kubacki

“Ele é prelado do IOR. Ela, membro da comissão de reorganização das administrações do Vaticano. Duas nomeações desejadas e decididas pelo papa Francisco que, no entanto, são a negação viva de seu programa de limpeza e de reforma”. O artigo publicado esta semana pelo vaticanista Sandro Magister sobre os dois “erros de escolha” do papa causou alvoroço. Para ele, o problema não está tanto no fato de ter cometido dois erros de seleção, mas em não ter “corrigido a trajetória”. Uma crítica tanto mais contundente quanto mais o papa Francisco parece ser uma unanimidade.

Desde a sua eleição, a Igreja Católica vive uma espécie de lua de mel. Popular entre os fiéis, o papa tem um índice de aprovação de 84% nos Estados Unidos e seus Angelus atraem dezenas de milhares de pessoas todos os domingos. Francisco seduz inclusive fora da Igreja. A imprensa, que tanto fustigou Bento XVI, parece a tal ponto enfeitiçada que a Vanity Fair Itália o escolheu como Homem do Ano. Há muitas razões para isso. Na forma, sua proximidade quase carnal com a multidão e seu tratamento na segunda pessoa (tu) lhe conferem um carisma especial. O papa dos pobres toca, tanto no sentido próprio como no sentido figurado.
No conteúdo, suas corajosas tomadas de posição, assim como sua vontade de reforma da Cúria, sua viagem para Lampedusa, onde interpelou as nossas sociedades sobre suas responsabilidades diante da miséria dos migrantes e seu repetido desejo de uma “Igreja pobre e dos pobres”, celebram um discurso social menos clivante que as questões morais ou de bioética. No entanto, desde o início do verão, alguns começam a criticá-lo, principalmente por divergências ideológicas.

Na origem está uma incompreensão. Num artigo publicado no Global Post, de 18 de julho passado, Anthony Paul Smith, professor do Departamento de Ciências Religiosas da Universidade La Salle da Filadélfia, aponta este mal-entendido: “Francisco ainda está marcado por uma divisão: de um lado, pode assinar uma encíclica na qual se esperava o nome de Bento XVI e, de outro, é capaz de se ajoelhar diante de duas detentas italianas – uma muçulmana e outra católica – para lavar-lhes os pés”. Afinal, qual é a linha do papa Francisco? “Nem liberal, nem conservador, mas radicalmente cristão”, é como Tim Stanley, historiador americano, o definiu, em artigo publicado no jornal The Telegraph, 21 de agosto.

Desta maneira, para Olivier Bobineau, “o papa Francisco não é um revolucionário”. Embora mostre sua admiração para com o sucessor de Bento XVI, o sociólogo continua pessimista em relação a eventuais reformas: “Nenhuma mudança importante no plano estrutural deve ser esperada, escreve no jornal francês Le Monde, de 28 de julho.
O novo estilo e a encenação referem-se a um método de argumentação teológica muito antigo, desenvolvido especialmente pelos jesuítas: a casuística. Concebida como uma forma de argumentação, a casuística é uma arte retórica que confronta o caso particular e a jurisprudência, de um lado, com um conjunto de princípios gerais, de outro.
Os jesuítas se apoderaram, no século XVI, para lutar contra a Reforma Protestante. A ambição era a conversão em massa “à verdadeira religião” adaptando, tanto quanto possível, os princípios originais... sem – muito – trair o espírito”. Falando de maneira clara, muda-se a forma, mas se salva o conteúdo: lugar das mulheres na Igreja, homossexualidade... “A priori, o atual papa não fará mais que dar continuidade aos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, perpetuando os princípios tradicionais da moral cristã. A posteriori, dois indícios poderão significar um certo retorno ao conservadorismo moral pré-Vaticano II”. Pode-se citar as frequentes alusões à luta espiritual contra o Diabo e a crítica subjacente da maçonaria através do lobby homossexual, reservando seu julgamento para o momento em que Francisco começar a fazer suas primeiras reformas.

Muito para alguns, insuficiente para outros, “o papa Francisco é um pontífice sedutor e confuso – comenta com muito humor o historiador Tim Stanley. Alguns meios de comunicação o imaginam um Irmão Liberal, saltando de pára-quedas nas favelas para alimentar os famintos e punir os ricos. Outros o veem como resolutamente medieval – todo esse blá blá blá sem sentido sobre os demônios e os exorcismos. É um homem do Novo Mundo exercendo a mais antiga profissão do Velho Mundo; um argentino com sangue italiano que não gosta de latim. Ele escreve pouco, mas fala sem parar. Ele é, como lamentou um jornalista muito crítico da Igreja, profundamente católico. Isso é um alívio, porque os tradicionalistas me disseram que foi eleito um budista”.

Aqueles que acusam Francisco de demagogo podem, portanto, ficar sossegados: como disse o cardeal Walter Kasper numa entrevista ao jornal italiano Il Foglio, o papa não será uma unanimidade.
 
La Vie, 30-08-2013 / domtotal.com.

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