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terça-feira, 8 de maio de 2012

Carta à minha mãe



Por Carlos Drummond de Andrade*
Há muito tempo, sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelhecí: olha em relevo
estes sinais em mim, não das carícias
(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que a sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho. 
*O poema Carta, de Carlos Drummond de Andrade, foi publicado em 1962 no livro "Lição de Coisas" (domtotal.com)

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