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sexta-feira, 28 de março de 2014

A Terra não é para os consumistas excessivos

Marcus Eduardo de Oliveira
“A Terra é para todos, menos para os consumistas”, profetizou Mahatma Gandhi (1869-1948). Perguntado, logo após a Independência da Índia (1947), se esta seguiria o modelo de desenvolvimento e o estilo de vida dos britânicos, o líder pacifista assim respondeu: "(...) a Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcançar sua prosperidade; quantos planetas não seriam necessários para que um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?".

Fato irretocável é que não há recursos para um amplo crescimento de todas as economias. O Planeta é finito, os recursos são limitados. O atual estágio de consumo e produção de algumas economias somente tem contribuído para acirrar as gritantes contradições.

Consolidar um novo modo de consumir e produzir é imprescindível para assegurar o futuro da própria humanidade. Pelo menos nos últimos 200 anos, o capitalismo fez de tudo para edificar o consumo como uma espécie de religião. O deus dessa “religião” é o dinheiro e, o templo, o mercado. Essa relação pecaminosa aflorou no lauto “banquete do consumo” as discrepâncias entre os abastados (20% da população mundial) em comparação a mais de 1/3 da humanidade que para esse banquete nunca será convidada.

O superconsumo (por parte dos mais ricos do mundo) não pode estar embasado no subconsumo (por parte de 80% dos habitantes do lado pobre).

A quinta parte mais rica do mundo consome 45% de toda carne e peixes, deixando apenas 5% para a quinta parte mais pobre. Os países do centro do capitalismo detêm quase 79% do Produto Nacional Bruto mundial, enquanto os países mais pobres dispõem de apenas 1,5%.

É nesse sentido que a consolidação de uma nova sociedade, partindo de um novo modelo econômico, com benefícios estendidos coletivamente, somente terá sucesso quando o modelo econômico em curso entrar definitivamente em decomposição. E a decomposição já está em curso.

São as gritantes contradições entre o modo de viver dos mais ricos em relação aos mais pobres que está levando a decomposição desse modelo catalisador de diferenças sociais. Essas contradições estão expressas na detenção da renda e da riqueza por uma parcela pequena da sociedade. A concentração de riqueza em poucas mãos ganha contornos abissais em comparação aos milhões de pobres e miseráveis que pouco acesso tem aos bens materiais.

É o desenvolvimento de uns que está sendo conquistado à custa do subdesenvolvimento de tantos outros. De um lado, há uma sociedade elitista; do outro, uma massificação de excluídos. É o capitalismo de mercado que sabe se expandir, mas não sabe como distribuir igualmente os bens e serviços.

Nesse pormenor, não é despropositado lembrar que o capitalismo nasceu de regimes que favoreceram a apropriação pela desapropriação, gerando desde seus primeiros dias de vida uma política de total exclusão das massas.

Junto a essa constatação, não se pode deixar de lado críticas acerca do estrago que o consumo excessivo provoca sobre o meio ambiente. Lamentavelmente, exemplos disso são constantes: enquanto o aquecimento global tende a provocar a destruição do ambiente, a Exxon Mobil – a maior petrolífera do mundo - obteve em 2010 o maior lucro da história do capitalismo, batendo na marca estratosférica de quase 40 bilhões de dólares.

Isso faz parte das forças do lado rico que se sobrepujam destruindo o lado pobre do Planeta. Essas “forças” do lado rico se agrupam no grupo intitulado G8 (os sete países mais ricos acrescido da Rússia).

Com muito “esforço” esse grupo, às vezes, se transforma num G20, reunindo mais uma meia dúzia de países que “pensam” terem forças suficientes na hora de opinar e decidir algo. Caso se pretenda construir um mundo consolidado, equânime e menos desigual não seria mais justo reunir todos os países num G200 (*), ou seja, agregar os 200 países num único esforço de ação participativa visando um desenvolvimento amplo?

Fica a indagação para nossa reflexão.
Notas: (*) Ouvi pessoalmente de Ignacy Sachs comentário a esse respeito.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br
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