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segunda-feira, 19 de maio de 2014

O caminho em direção a Deus é silencioso

De forma discreta, deixamos uma certeza nos invadir: Deus existe, nos ama e tudo é possível.
Por José Antonio Pagola*

No fim da última ceia, os discípulos começam a intuir que Jesus já não estará muito tempo com eles. A saída precipitada de Judas, o anúncio de que Pedro o negará brevemente, as palavras de Jesus falando da Sua próxima partida, deixaram todos desconcertados e abatidos. Que vai ser deles?
 
Jesus capta a sua tristeza e a sua perturbação. O Seu coração comove-se. Esquecendo-se de Si mesmo e do que o espera, Jesus trata de animá-los: “Que não se perturbe o vosso coração; acreditai em Deus e acreditai em Mim”. Mais tarde, no decurso da conversa, Jesus faz-lhes esta confissão: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai, senão por mim”. Nunca o deverão esquecer.
 
“Eu sou o caminho.” O problema de não poucos não é que vivam extraviados ou desencaminhados. Simplesmente, vivem sem caminho, perdidos numa espécie de labirinto: andando e refazendo os mil caminhos que, de fora, lhes vão indicando os slogans e as modas do momento.
 
E, que pode fazer um homem ou uma mulher quando se encontra sem caminho? A quem se pode dirigir? Onde pode acudir? Se se aproxima de Jesus, o que encontrará não é uma religião, mas um caminho. Às vezes, avançará com fé; outras vezes, encontrará dificuldades; inclusive poderá retroceder, mas está no caminho correto que conduz ao Pai. Esta é a promessa de Jesus.
 
“Eu sou a verdade.” Estas palavras encerram um convite escandaloso aos ouvidos modernos. Nem tudo se reduz à razão. A teoria científica não contém toda a verdade. O mistério último da realidade não se deixa apanhar pelas análises mais sofisticadas. O ser humano há de viver ante o mistério último da realidade.
 
Jesus apresenta-se como caminho que conduz e aproxima esse Mistério último. Deus não se impõe. Não força ninguém com provas nem evidências. O Mistério último é silêncio e atração respeitosos. Jesus é o caminho que nos pode abrir a sua Bondade.
 
“Eu sou a vida.” Jesus pode ir transformando a nossa vida. Não como o mestre longínquo que deixou um legado de sabedoria admirável à humanidade, mas como alguém vivo que, a partir do mais profundo do nosso ser, nos infunde um germe de vida nova.
 
Esta ação de Jesus em nós se produz quase sempre de forma discreta e silenciosa. O mesmo crente apenas intui uma presença imperceptível. Às vezes, no entanto, invade-nos a certeza, a alegria incontida, a confiança total: Deus existe, nos ama, tudo é possível, inclusive a vida eterna. Nunca entenderemos a fé cristã se não acolhermos a Jesus como o caminho, a verdade e a vida.
*José Antonio Pagola é teólogo. O texto é baseado na leitura do Evangelho de Jesus Cristo segundo João 14, 1-12, que corresponde ao Quinto Domingo da Páscoa, ciclo A do ano litúrgico.
domtotal.com

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